Como estudioso da história política brasileira contemporânea, compreendo que o poder inebria. O poderoso acredita que pode fazer tudo. Com apoio dos meios de comunicação, políticos, militares e, inclusive, surfando na popularidade de setores das classes médias e de trabalhadores, aquele que está no topo do poder acredita, sinceramente, que assim será para sempre. O futuro será sempre radioso. Carlos Lacerda foi um deles. Homem poderoso, sem limites em suas ambições políticas, foi bajulado pelas elites conservadoras do país. Tumultuou o governo de Vargas, Juscelino, Jânio e Goulart. Tentou impedir as eleições de 1955. Pregou golpes militares acreditando que, com isso, ganharia a presidência da República. Com o golpe de 1964, ele chegou ao apogeu. Certamente nunca passou por sua cabeça o que viria depois: a presidência escapou de suas mãos, cassado pelo AI-5, preso em um quartel. Depois, a queda política, o declínio de seu prestígio e a ruína de sua reputação. Ele até se esforçou para ser lembrando de maneira positiva, mudando sua imagem com livros biográficos e autobiográficos. Tudo em vão. Hoje Lacerda é lembrado, quando é lembrando, como golpista, como coveiro da democracia brasileira, como um homem mau - ou mal. Um homem, enfim, de triste memória. Embora tão poderoso, outrora... embora tão bajulado, outrora...
E o general Médici? Homem com todo o poder nas mãos, crescimento econômico de 14%, Copa do Mundo... Ele, algum dia, imaginaria que seria lembrado como um assassino? Como aquele que tornou a tortura uma política de Estado? Triste memória a de Médici, como a de Lacerda, embora tão poderosos, outrora... embora tão bajulados, outrora...
Hoje Lula está preso em uma solitária. Sozinho. Sem conversar com ninguém, sem ver ninguém. Visitas somente uma vez por semana. Quem é tão poderoso para impor tanta perversidade a um homem como Lula?
O poder inebria. Inebria a ponto de fazer crer os poderosos que seu poder é para sempre. São incapazes de perceber que nada é para sempre - nem mesmo seu poder. E que o futuro está logo ali,
na próxima esquina. Que o digam Lacerda, Médici, entre tantos outros, outrora tão poderosos, outrora tão bajulados.
Texto do historiador Jorge Ferreira, estudioso de História Política, professor da UFF.
Sabe aquelas horas em que dá vontade de escrever as coisas que estão acontecendo? Ou aquelas bobeiras e histórias que vc quer registrar em algum lugar? Pois..., resolvi colocar tudo aqui! Acho que é pra não esquecer e sempre dar uma olhada nas besteiras e fatos que me ocorrem em cada dia dos muitos que ainda terei.
terça-feira, 10 de abril de 2018
O poder da história: "o futuro está logo ali, na próxima esquina"
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